uma Canção

Cantei uma canção antiga
enquanto ouvia seus acordes
perdidos num passado distante...

Cantei por cantar e por cantar
lembrei-me das coisas que me
foram importantes!

Num tempo em que as palavras
surgiam difíceis por minha boca,
havia a canção que dizia por mim
das coisas qu´eu não podia falar.

Deu-se num tempo tão longe,
tão longe!

Hoje tenho mais palavras por dizer
e não encontro canções que as digam
por mim!

Queria cantar de novo...
... sem precisar dizer!

Raciosímio

Tomei-me do espanto!
Já não era mais meu mundo,
nem as pessoas, nem nada...

Meus amigos todos
não estavam mais aqui...
... e o aqui já não era mais o
que eu pensava fosse um aqui
em verdade!

Sentia as mãos, os braços, as pernas,
sentia o corpo todo; era eu!
Mas não era eu!

Era minha consciência (?)
era ciente de tudo que via e havia...
... era tudo diferente...
... não havia gente!

Não havia coisa alguma e
não sentia-me só....
... faltavam-me os amigos!

Já não pensava mais...
... cansaço talvez...
... fugira-me o raciocínio...

... instalara-se em mim o pérfido
raciosímio...
... algoz dos que carregam o fardo do cansaço
pela exaustiva jornada...

Ispídi

Quero-me no controle sempre!
Meu prazer é ter-te pelas pontas dos dedos,
Controlando-te, domando-te,
Transformar-te em objeto puro de meu prazer!

Nas pontas dos dedos,
As sinuosas curvas...
... controle absoluto!

Saber e poder imprimir ritmo
e velocidade,
delicadeza em cada curva...
percorrer-te e contigo percorrer...

Sou eu quem te controla...
... sou eu quem te domina!
Puro objeto de prazer...
... do meu prazer!

Que ralhem comigo
Os que não conseguem entender-me!
Ralhem...
Que pouco me importa!

O que mais pode importar-me no exato instante
Em que tenho-te sob meu comando...
Em que tenho-te por meu objeto ...
Em que tenho-te por completo...
Em que EU decido
O que fazer...
Como fazer...
Quão rápido fazer...

Eu decido e
Neste momento de decisão;
Decido-me por ser rápido,
Completo,
Imerso,
Alheio às outras coisas todas...

Nem me importa se não me entendem...
... sempre gostei assim;
Rápido! Intenso!

Adrenalina subindo pelos poros!

Quero-te sempre assim...

Nas horas em que não há mais
Pessoa alguma,

Quero-te sempre assim!

Intensa!
Rápida!
Envolvente!
Completa!

Quero-te! E Quero sacar-te
Sempre até nossos limites!

E não o dos radares!

Philosophae II

Giordano Bruno, no Tribunal da Santa Inquisição:
"Maior foi o vosso temor ao pronunciar a sentença contra mim, do que eu ao recebê-la!"

Por quantas e tantas vezes ainda
veremos coisas assim?!

Proferem-me uma sentença de medo!
Sentenciam-me à viver minha plenitude, por medo
das coisas ditas normais!

Enraiveço-me das sentenças aos outros,
as quais são proferidas também por medo!

Que dizer, então;
do temor ao novo,
aos novos tempos,
à nova consciência do mundo;
às novas idéias todas...
... que dizer então
dos temores do novo amor?

Ama-se uma vez, por vez!
Ama-se, na vida, tantas vezes quantas
forem tentadas... uma só:
só para quem tem muita sorte!

Ama-se, muitas vezes... uma por vez...
... ou não!

Quem sabe de mim, sou eu!
Eu sei se amo uma ou mais vezes ao mesmo tempo,
mesmo que sejam amores diferentes...

Quem mais poderá saber?!
De mim?! Ninguém!

Bebo do vinho que me trouxeram de longe...
... nem sei de onde veio...
... veio de longe, posto que não era meu!
... me veio por presente e não ficou para depois,
não era prá ser futuro; me foi presente!

Bebemos e brindamos!
O presente é passado... bebido...
... sorvido até a última gota...
... eterno o instante da entrega!

Defendo meus ideais, como quem
luta pela vida à cada instante!
Defendo minha vida, como quem
não tem ideais... só idéias...
... vida...
... temor e morte!

Philosophae

Disse Bacon
"...Los preconceptos tienen la firmeza suficiente para determinar el asentimiento intelectual y es así que si los hombres estuvieran dominados por una misma y uniforme locura, prodrían entenderse entre si bastante bién..."

Forte! Absolutamente correto!
Sentido das guerras, das pazes, dos prazeres...

Razão das escolhas;
ser tão louco quanto?
Não...
... quero menos para mim!

Sou louco no que posso ser, afinal;
me encantam as coisa boas... mais que as boas coisas...

ou o contrário... tanto faz!

Não promovo guerras, nem delas gosto.

O meu Mein Kampf, quando surgir ao mundo
há de trazer meus versos, não as brigas...
há de trazer meus sonhos, não as lágrimas...
há de trazer meus sorrisos

por sobre cada página virada!

Universo

Que o Universo todo
desconstrua-se, por inteiro
desmanche-se... pouco importa!

Quando nasci, já existia!
Cresci, continuava lá...
... e aqui!

Que me importa se é infinito?!
Um dia hei de morrer mesmo!

Não interessa-me saber de quantos astros
e estrelas e galáxias e tudo mais
se,
o Universo não sabe quem sou!

Estou nele, não
ele em mim!

Faço parte dele...
... não ele de mim!

Que o Universo todo
desconstrua-se!

Remodele-se...
... que possa ver-me, ouvir-me, sentir-me!

Refaça-se!
Recupere-se!
Reconstrua-se, ou
se nada disso;

Desconstrua-se!

E que não importe-se
comigo
que sou Poeta!

Posto que Poeta poeteia a poesia do universo
daquilo que sente!
Não daquilo que desconhece!

Pseudo-Sensual

Dispo-me para teus olhos
de toda a indulgência de que um dia
fiz parte.

Dispo-te pelos pés em princípio,
lenta e suavemente acalmo teus sentidos
com toques que sei o quanto te agradam

Agracio-me dos teus sentidos,
lânguidos...

Agracio-me pelos teus olhos quase abertos
p´rá o mundo da fantasia que nos invade aos poucos...

Sigo, calmo e constante o caminho
dos primitivos instintos dos amores modernos!

Subo e às alturas dos teus suspiros
chego perto de onde és mais que só uma mulher:
ao ponto onde és minha mulher e toco
de leve
onde és mais que só minha mulher!

Traço na ponta dos dedos os teus contornos
entornos e montes e cumes e lagos e vales...

Beijo-te, no suspiro dos ingênuos,
os lábios donos do sorriso mais lindo do mundo,
os lábios que emolduram o brilho e ostentam
as estrelas ocultas pelo teu olhar.

Dispo-te, aos poucos...
Tenho pressa de sonhar e chegar bem perto!

Perto de nós!

Dispo-te um pouco mais!

Teu vestido repousa sobre o chão do quarto
bem perto do caminho de saída...

Te vejo!

Olho-te com os olhos de volúpia e dispo-me da tranquilidade!

Beijo-te e tomo-te minha!

Já não sou eu, somos nós, um só!

E enfim...

Somos felizes!

Pena...

Acordo com vontade de não levantar nunca mais...

Pena...

Estou só... os olhos ardem...

o corpo dói... estou cansado...

... de ser só!

Um sonho nos teus sonhos... cansado...

Nossos Nós

Pensei em pensar em você!
Pensei em lembrar de tudo que foi bom...
... dentre todos,
salvamo-nos seguros...
... sãos!

São minhas lembranças,
nossos momentos
as brincadeiras e os
instantes nos quais éramos mudos e surdos,
onde éramos
completamente tácteis!

Nós e os nós que nos
cercavam e envolviam e eram
só nossos nós!

Pensei em não esquecer e
lembrei que não se pode lembrar
de quem nunca se esqueceu um
dia.

Pensei em lembrar e
lembrei-me de que pensar é
um ato de amor! Por vezes, próprio!

Dos sonhos sonhados em sonhos acordados
deitados ao vento por longas vagas inertes
ao instante
ficaram as memórias...

Preso às suas presas um pedaço de mim!
Pedaço de mim que era tão são...
... nosso...
... no osso...
nos nós...
... nossos!

E o óleo que corria pelas tuas costas era
mais frio que as gotas que fugiam dos teus olhos
nos nossos momentos só nossos.

Éramos só nós...
Eu mudo....
... por vezes surdo...
... táctil!

Sensillo....
Y tu sonrisa brilla...
... la luna brilla...
... brilla...
... la luna...
... la sonrisa...

E nós... nossos... sós... após!

Ermida

Ah! Tempos passados que nunca serão os mesmos...

... passado o tempo dos Tempos, no tempo dos relógios escorridos
nas paredes do sótão... uma água furtada à Tabacaria...

Ao caso dos ocasos ao acaso... que do sol nada se retira além da luz,
da vida nada se leva senão seu tempo vivido... eis novamente o relógio
e fumo...

"Enquanto o destino mo conceder, continuarei fumando..."

Pessoa! Quão mais humano poderia ser? Pessoa em sí e em nome...
Quem mais seria de tantos lugares ao mesmo tempo, negando as leis da física... daqui, de lá... Dalí!

O real, concreto e palpável, tangível às sensações é nada... tudo de
um todo perdido no escuro das lembranças de alguém que já pode
ter ido... longe demais...

E eu, eu que nunca fiz coisa alguma de valor... que faço?

Faço versos que não rimam.
Procuro a verdade em tudo e em nada.
Procuro ser otimista quanto ao futuro... mas...
... de que adianta o otimismo!? Um dia estarei morto!

Se meu pai, um dia fosse meu filho... receberia umas boas!
Não pelo que tenha feito, senão pelo que não fez!

Lamentar as coisas que se vão ou foram, é fácil demais!

Lamento pelo que nem sei.... pelo que não ví ainda...

Lamento a palavra perdida, errada, lançada ao vento e que teve por
destino os ouvidos de alguém...

Lamento...

Lá minto!

E se tivesse dito a verdade, seria a mesma coisa...
Nada muda porque quero que mude.
Nada muda somente porque quero que seja mudado. Nada!

Queria que as palavras fossem gotas de chuva...
... os poemas nuvens...
... os livros, os rios....

O ciclo estaria completo... nuvens... chuvas... rios...

Condensação e tudo de novo....

De novo... não novo... novamente...

Nada de nada....

Fui educado para pedir Por Favor, Agradecer...
... rezar antes de dormir...
... não andar descalço...
... ser uma pessoa direita e educado...

Fui criado assim e assim penso que seja certo;
errado é o mundo que não segue algumas regras...

Será, mais cedo ou mais tarde (que não seja tarde demais!)
o começo do fim de tudo e será então Nada!

Nada... o nanocondutor da nanobiotecnologiasintéticapequenademais!

Nada...
... nem sopro...
... nem vento...
... nem nuvens...
... nem chuvas...
... nem rios...
... e livros
e palavras
e poemas
e rimas
e choros
e sorrisos...

E vivo só... na minha ermida!

Só e isolado em minha ermida...

Já fui amigo do Coveiro... que enterrava na curva do rio...
... e ele se foi...

Nunca conheci quem fosse famoso ou importante para os outros...
... mas fiz daqueles que conheci importantes para nós...
... fui amigo!

Amei!?

Amo!

A quem?! Isso é só meu!

Divido quase tudo em mim...
... quase tudo!

Passado tanto tempo,
tenho uma página em branco e saco do passado a idéia de
fazer um poema sobre alguma coisa,
me vem; nada...

... como sempre,
escrevi sobre coisa alguma...

Gastei tempo e vou tomá-lo de alguém que se dê ao
trabalho de ler o que escrevo...
... se for, ainda assim um poema e fizer alguém sorrir ou chorar ou
ao menos xingar-me (se xingar, xingue à mim, deixa minha mãe em paz!)...

talvez eu tenha feito algo de importante...

... quereria saber do passado.... (quereria assim mesmo! faço uso
de toda minha liberdade!)

Digo que o Eremita não morreu! Ainda vive!
Ainda pensa que é poeta...

... ainda escreve... passados tantos anos...
... ainda escreve...
... escreve...
... ainda...
... inda...
... vê...

Vinhas Vazias

Andei por vinhas vazias,
sem vida ou sombras
e pensava se vinhas só
por vinhas vazias...

Sem álcool ou aroma
ou sabores ou coisa alguma,
vinhas por vinhas vazias...

Nem sempre fui assim; vazio
feito vinha por onde eu vinha
em caminhos vazios...

Andei... andava...
por onde nem vinhas
nem frutos, nem ramas
nem nada podia viver: nem eu!

Eu vinha, por vinhas
por onde vinhas sem sequer
saber que virias...

... nenhum de nós!

Doído e Incômodo

... bate
um pouco doído...
... um tanto
incômodo, bate!

Como se 
crescesse em tamanho
tentando ocupar mais
que somente o espaço
que lhe foi designado...

... bate, ainda que um pouco
mais rápido que o normal...
... até assusta...

... talvez o excesso de tabaco
bebida já faz muito tempo
que nem sinto o cheiro, opção mesmo,
sem falsos pudores;
era maior a dor de cabeça
que qualquer outro prazer...
... melhor deixar de lado.

.. queria saber que é
coisa passageira
não de passamento!

... pode ser uma coisa
ou outra,
tanto faz
tanto não fiz...

... nunca fiz o que
de mim esperavam
nem esperei que fizessem por mim,
nem mesmo no fim...

... dói e é incômodo...
... parece que cresce
feito erva da boa...

... dói, de certo que não é grande a dor
maior é a preocupação de acontecer
no trânsito,
não gostaria de machucar alguém... ninguém...
... tenho levado a vida
de maneira leve, penso que para todos...
... deixei alguns assuntos mal resolvidos;
desculpem-me!

... tentei fazer sempre
o melhor prá todos e
quando não o fiz,
sempre fiz o pior prá mim... santa estupidez...
... sempre fui assim;
pensava mais
nos outros que em mim mesmo... (nem rimas quero fazer, ainda que pudesse...)

... vivi a vida de viver a vida por
outras pessoas...
... do começo até agora
(não sei se é o fim! há fim?!)

Sorri muito,
gargalhei até!

N´algumas vezes em
que eu fui eu mesmo;
ví-me como alguém que pudesse ser feliz o tempo todo!

N´outras vezes, fazia
apenas o que de mim esperavam...

... tenho muito que contar não...
... tenho 2 jóias, uma para cada braço!

Que num abraço apertado
se fazem razão de tudo prá mim...

... bate
um pouco doído...
... um tanto
incômodo, bate!

... acho que hoje,
uma vez mais;
chego em casa... hoje sim...

... eu acho...

Fatherhood

I´ve never thought
about fatherhood...

... always it was
a distant sunset
or a place where
I´ll could find broken angels
around everyone...

I´ve never, ever,
thought about that...

And how much I didn´t
think about it...

... much more I
felt how good it sounds...

Fugaz

Num instante estou vivo,
noutro
não estou mais...

Num momento falo
e respiro e ouço e
sinto o sabor de um vinho
barato...
... noutro; só a cachaça
que me maltrata os olhos...

Num segundo saio
e volto
e não quero mais sair...
... são dois ou três
ou mais segundos talvez...

Tudo têm sido fugaz...
... banal até...

... tudo...

Palavras ao vento

Já faz muito tempo
que eu podia ver as
palavras que vinham ao vento
e delas interpretar o que
eu bem entendesse por
saber...

Já se faz tempo demais...
... eu podia saber de onde vinham
as palavras e para onde poderiam
seguir...

... Donde las palabras venian por el viento y los ojos las sentian...

Desde quando eu
sempre fui poeta e quando
não o fui
perdí-me nas linhas traçadas
pelas chuvas que insistiam em
apagar as palavras que
chegavam aos olhos num
sorriso matreiro e
cheio de muitas intenções...

Eu era poeta e lia as palavras
que vinham ao vento...
... eu era moleque,
menino largado
que corria pela rua
procurando o sorriso
que me traria
o conhecimento da vida
toda...
... procurava o sorriso
que eu mesmo nem conhecia...

... e quem sabe nunca mais verei...

Penso!

Penso!

Torto para os lados... penso!

Assim chamávamos o pipa que não ficava em posição no céu!
Penso!

É como sinto o passar do tempo
acumulando o peso sobre as costas
cansadas das coisas da vida...

Penso!

Penso que se estou hoje penso
foi por não pensar antes
no que poderia ser...

Penso!
Pensei...
... penso mais não...
... pensei tudo que podia pensar...

... vou é viver!
Um dia depois do outro,
uma hora depois da outra e nunca,
nunca mais
esperar pelo segundo;

quero sempre, daqui prá frente
o primeiro instante!

um Velho!

Velho!

Um dia ainda serei,
se é que não o sou ainda
em verdade...

Passaram alguns por mim,
prá um fui esteio...
... prá outro;
um apoio...

... p´rum outro ainda
fui amigo
depois de ter sido filho
pouco visto...

Hoje,
há um velho que não é meu
em laços de sangue...

... ao menos no meu sangue!

Lembrei-me de ser
um quase filho...

... lembrei-me que o salvei
ou salvei aos outros
quando o levei ao médico com
a pressão explodindo...

... lembrei-me que de todos
que poderiam ouvi-lo
eu fui o único que sentava
e escutava pela
milionésima vez as histórias
que tinha prá contar...

Talvez eu não chegue lá!

Passados os setenta, dele,
ouço ainda as coisas repetidas
e entretenho-me nas linhas não contadas,
por muitas vezes veladas,
as verdades que nunca foram ditas!

Estava olhando p´ro céu
de poucas estrelas
quando lembrei-me
que nestas exatas horas o
telefone sem-fio novo
estava carregando as baterias...
... acho que já estavam suficientemente carregadas!

Será que ele, o velho...
... o Velho!
Lembraria de desligá-lo da tomada
até que eu chegue amanhã à tarde
para programá-lo?

Se bem que
se ainda estiver ligado quando eu chegar,
após o almoço,
não fará diferença nenhuma...

Esse Velho,
acredita tanto em mim
que não tenho maneiras
nem ímpeto
por enganá-lo!

Não é meu pai,
nem qualquer de meus avós...
... é avô de meus filhos...

Mas,
eu gosto desse Velho!

Chego depois do almoço,
depois de dormir um pouco
para instalar o telefone novo...

... até mais!

Portas

Bati à porta... na porta... a porta!

Em portos que desconheço, descalcei-me
das coisas todas que incomodam quando
se quer andar sem destino.

Ví portas e portas e mais portas
intentava, infante bufão,
entrar por as quais já sabia onde iam dar...
... bati à porta e ninguém atendeu!
Bati na porta e ninguém percebeu!
Bati a porta quando entrei e
ninguém reclamou!

Disseram-me dos umbrais que circundam as portas:
- Nunca fiques sob os umbrais... são de mau agouro!

Áugures, lúgubres áugures deram os agouros,
bons ou maus
e
os pobres mortais iletrados e obtusos
têm a crença de que são verdades absolutas!
Absolutamente!

Cerco-me de papel e caneta e penso em escrever um poema
que seja de amor inconteste,
real e verdadeiro e sincero e puro e recíproco!

Acendo um cigarro e deixo-o queimando sobre a mesa, o cinzeiro já está cheio, caem cinzas e o cigarro rola por sobre a mesa, queimada,
queimando, ardendo um ardor que poderia ser do amor que pensei poder escrever um poema...

Penso nas portas que todavia se me fecharam...
... dou de ombros... umbrais... mau agouro!

Penso nas coisas que penso os poetas pensem;
como traduzir bela uma dor de amor?!
como fazer bela, uma flor murcha e velha e morta
que
por estar entre páginas de um enorme poema de amor,
abstraem-se da própria vida, para viver o perfume do poema
que é belo!

Outras portas...
... ventanas?!

Diabos! Ao diabo com os maus agouros,
cruzo umbrais de portas conhecidas e nada acontece
nem ao menos vejo aquelas que amei um dia...
... são portas do passado
d´um passado em que sou desconhecido para o tempo...
... senti a presença das que amei sem as ver
e não
fui visto! Quiçá sentido?!

Bato por portas que nunca ví antes...
... se me apresentam novas ou velhas ou gordas ou magras
e não as conheço e nem me dou por conhecê-las...

Bato, parto em busca do futuro...
Parto e não parí! Parei quando estava cansado...
Ví mulheres parindo, não os meus filhos, que esses conheço bem,
os filhos do mundo, paridos em meio à tanto barulho...
... buzinas, gritos, palavrões, algazarra em pé de crescer o conflito das ruas... filhos paridos de pais desconhecidos...

Eu, ao menos, soube quem foi meu pai
inda que pouco o tenha visto... conheci-o
de vista!
Inda que numa torpe vista míope, soube quem era e o que fazia de errado,
ninguém, nunca,
deu-se ao trabalho de dizer-me o que de bom ele fez, se é que fez algo de bom algum dia...

Torno-me amargo, como o expresso que sinto salivar... forte,
encorpado, amargo (pois que não adoço!) e
penso em quantas batidas serão necessárias até que as portas certas sejam abertas.. mesmo que para as pessoas erradas!

Tudo, disseram-me uma vez, é parte de um todo
que nunca será conhecido em verdade...

Desisti de tentar conhecer!
Acho que...
Desisti das coisas!

Se eu morrer agora, em minha lápide escrevam:
"Morreu!"

Nada mais interessa... o morto, não sente as lágrimas choradas!

Vãos

Perdem-se em rodeios
e censuras
e chegam ao vão
das coisas vãs...

Perdem-se os rodeios
as censuras
e o vão das coisas
ainda são vãos...

Não há ganhos!
Nem ganhadores!
Nem mesmo perdedores...

Vãos são os vãos
das vãs idéias
cercadas por rodeios
e censuras...

Monólogo

Falo,
da boca
prá fora,
apenas o
que a
cabeça pensa...

... do que aperta
ao
peito
só as
lágrimas
fazem saber!

Illusion´s Camp

When I´ll be there,
I´m sure,
nothing else will
be there too.

When my soul
could fly away,
I know,
nothing else will
be here.

A broken heart,
a lot of dreams
laying down at the
Illusion´s Camp...
... there´s nothing
else to do...

When I´ll be there
I known,
I´d had my heart in two pieces,
not in a math division
but a fatherhood´s life!

When I´ll be there,
maybe,
my babies would see
that their father was a
good guy...

When I´ll be there,
I´ll just save a prayer...
... and could hear one
or two
for me...

da Noite

Em copas, ocultos
os escuros olhos
da noite que ainda
não chegara.

Contavam os minutos
para que se pudessem abrir ao mundo,
esperando que findasse
o tempo das luzes...
... corriam apertados
dum lado ao outro...

... como que procurando
outros pares!

Em copas, paus ou
ouros e espadas,
o jogo era
feito... jogado...
... deitado às margens
da noite que insistia em demorar-se.

Não havia canto...
... nem gorjeios!

Havia um som abafado...
... longe...
... distante...
... disforme...
... impossivel que fosse
uma canção!

Foi um lamento
de olhos cegos à luz
que queriam uma noite escura...
... uma busca...
... a definitiva procura...

... o remédio
prá curar a loucura!