Velho!
Um dia ainda serei,
se é que não o sou ainda
em verdade...
Passaram alguns por mim,
prá um fui esteio...
... prá outro;
um apoio...
... p´rum outro ainda
fui amigo
depois de ter sido filho
pouco visto...
Hoje,
há um velho que não é meu
em laços de sangue...
... ao menos no meu sangue!
Lembrei-me de ser
um quase filho...
... lembrei-me que o salvei
ou salvei aos outros
quando o levei ao médico com
a pressão explodindo...
... lembrei-me que de todos
que poderiam ouvi-lo
eu fui o único que sentava
e escutava pela
milionésima vez as histórias
que tinha prá contar...
Talvez eu não chegue lá!
Passados os setenta, dele,
ouço ainda as coisas repetidas
e entretenho-me nas linhas não contadas,
por muitas vezes veladas,
as verdades que nunca foram ditas!
Estava olhando p´ro céu
de poucas estrelas
quando lembrei-me
que nestas exatas horas o
telefone sem-fio novo
estava carregando as baterias...
... acho que já estavam suficientemente carregadas!
Será que ele, o velho...
... o Velho!
Lembraria de desligá-lo da tomada
até que eu chegue amanhã à tarde
para programá-lo?
Se bem que
se ainda estiver ligado quando eu chegar,
após o almoço,
não fará diferença nenhuma...
Esse Velho,
acredita tanto em mim
que não tenho maneiras
nem ímpeto
por enganá-lo!
Não é meu pai,
nem qualquer de meus avós...
... é avô de meus filhos...
Mas,
eu gosto desse Velho!
Chego depois do almoço,
depois de dormir um pouco
para instalar o telefone novo...
... até mais!
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