Bati à porta... na porta... a porta!
Em portos que desconheço, descalcei-me
das coisas todas que incomodam quando
se quer andar sem destino.
Ví portas e portas e mais portas
intentava, infante bufão,
entrar por as quais já sabia onde iam dar...
... bati à porta e ninguém atendeu!
Bati na porta e ninguém percebeu!
Bati a porta quando entrei e
ninguém reclamou!
Disseram-me dos umbrais que circundam as portas:
- Nunca fiques sob os umbrais... são de mau agouro!
Áugures, lúgubres áugures deram os agouros,
bons ou maus
e
os pobres mortais iletrados e obtusos
têm a crença de que são verdades absolutas!
Absolutamente!
Cerco-me de papel e caneta e penso em escrever um poema
que seja de amor inconteste,
real e verdadeiro e sincero e puro e recíproco!
Acendo um cigarro e deixo-o queimando sobre a mesa, o cinzeiro já está cheio, caem cinzas e o cigarro rola por sobre a mesa, queimada,
queimando, ardendo um ardor que poderia ser do amor que pensei poder escrever um poema...
Penso nas portas que todavia se me fecharam...
... dou de ombros... umbrais... mau agouro!
Penso nas coisas que penso os poetas pensem;
como traduzir bela uma dor de amor?!
como fazer bela, uma flor murcha e velha e morta
que
por estar entre páginas de um enorme poema de amor,
abstraem-se da própria vida, para viver o perfume do poema
que é belo!
Outras portas...
... ventanas?!
Diabos! Ao diabo com os maus agouros,
cruzo umbrais de portas conhecidas e nada acontece
nem ao menos vejo aquelas que amei um dia...
... são portas do passado
d´um passado em que sou desconhecido para o tempo...
... senti a presença das que amei sem as ver
e não
fui visto! Quiçá sentido?!
Bato por portas que nunca ví antes...
... se me apresentam novas ou velhas ou gordas ou magras
e não as conheço e nem me dou por conhecê-las...
Bato, parto em busca do futuro...
Parto e não parí! Parei quando estava cansado...
Ví mulheres parindo, não os meus filhos, que esses conheço bem,
os filhos do mundo, paridos em meio à tanto barulho...
... buzinas, gritos, palavrões, algazarra em pé de crescer o conflito das ruas... filhos paridos de pais desconhecidos...
Eu, ao menos, soube quem foi meu pai
inda que pouco o tenha visto... conheci-o
de vista!
Inda que numa torpe vista míope, soube quem era e o que fazia de errado,
ninguém, nunca,
deu-se ao trabalho de dizer-me o que de bom ele fez, se é que fez algo de bom algum dia...
Torno-me amargo, como o expresso que sinto salivar... forte,
encorpado, amargo (pois que não adoço!) e
penso em quantas batidas serão necessárias até que as portas certas sejam abertas.. mesmo que para as pessoas erradas!
Tudo, disseram-me uma vez, é parte de um todo
que nunca será conhecido em verdade...
Desisti de tentar conhecer!
Acho que...
Desisti das coisas!
Se eu morrer agora, em minha lápide escrevam:
"Morreu!"
Nada mais interessa... o morto, não sente as lágrimas choradas!
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