Registro Civil

2004, dezembro, deveria ser dia 8 ou 9 no máximo, por volta das10h

Na recepção da Maternidade, questiono sobre o posto de serviços que o Cartório de Registros tem ali. A moça, atenciosa até, indica o número do outro lado da rua.

Orgulhoso, pois que pai pela segunda vez e desta vez uma menina, tão sonhada e desejada, andava por nuvens, atravessando a rua como se fosse só eu que estivesse vivo alí. Alcancei o prédio, uma casa antiga, provavelmente tombada pelo patrimonio histórico, subi os 2 lances de escada até o "quarto" onde era a sala do Cartório de Registros.

Com os papéis da maternidade em mãos, questionei sobre o processo
para registro de nascimentos e a moça, esta com cara de poucos amigos, entregou-me mais um punhado de papéis por preencher.

Resignado diante de tanta falta de tato, sentei-me à carteira e comecei a preencher as fichas, com datas e nomes e mais nomes; nome de pai, mãe, avós maternos, paternos, datas e pesos e tamanhos...

Satisfeito, levantava-me para entregar os papéis prá onça do cartório, quando um homem de uns 30 e tantos anos que estava sentado 2 carteiras à direita, já tinha pedido 3 vezes por novas fichas, pedia mais um jogo. A tal da onça, se preparava para um esporro, quando se deu conta de que não estavam só os dois alí, separou mais um jogo e disse ao homem:

- Este já é o 3º jogo, vê se não erra de novo...

- A moça não pode escrever prá mim?

- Não senhor... não posso... esse não é meu trabalho.

- Se quiser, eu posso ajudá-lo... - eu disse, olhando para a onça - já mostrando chispas nos olhos! detesto que façam troças com as pessoas que sabem menos ou que tiveram menos oportunidades... fico puto!

O rapaz, agradeceu e sentou-se mais próximo. Entregou-me as fichas e os documentos da maternidade, mais os dele e os da esposa.

Comecei a preencher com as informações que os documentos entregues continham. Nomes todos; pai, mãe, declarante, avós maternos e paternos.

O rapaz, olhou a ficha e disse alguma coisa parecida com:

- Você é professor?

- Não... não sou...

- É que você escreve bem... -(imagino que ela tenha pensado que a letra fosse bonita!). - Eu tô tão nervoso, meu primeiro filho, sabe... tô tremeno... (assim mesmo...)

- Não é fácil não... já passei pelo primeiro, também... agora nasceu a menina, tá mais fácil...

- Ahhhh.. óia aqui... minhas mão... tô tremeno todo...

Pensei comigo... o quê custava essa cretina ajudar ao pobre homem... está feliz porque lhe nasceu o filho, mas pelo pouco estudo, mal sabia ler e escrever... foda-se ela, pensei!

- Qual o nome do garoto?

O pai disse, mas não me lembro mais qual é... achei bonito o nome; acho que era um nome antigo... daqueles que hà muito tempo não se ouve mais.

Conversamos um pouco mais, ele queria saber sobre várias coisas, vacinas e tudo mais... conversamos um pouco e entregamos as fichas para a onça.

No dia seguinte, fui buscar a Certidão de Nascimento da filhota, vi a onça uma vez mais, retirei a Certidão e retirei-me, ainda não acreditando na falta de tato daquela menina! Que absurdo...

Dia de alta, feliz da vida, a familia aumentada volta para casa.

Eu, puto da vida, telefonei para o cartório, reclamei da onça e contei do absurdo com o rapaz...

Não sei o que se passou com ela, nem mesmo com o rapaz (Caipira de Perto) mas de uma coisa tenho certeza:

- Essa, pelo menos, pensa mais um pouquinho antes de maltratar alguém... ou não....

Em casa, nós 4?! Vamos vivendo muito bem! Graças à Deus!

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